quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

VIAGEM A OURO PRETO


Ouro Preto é um pedaço do século XVIII encravado na modernidade. O ronco dos automóveis, o trânsito meio que bagunçado e as modernas agência bancárias combinam-se harmonicamente com a arquitetura colonial, com o calçamento de pedras e com a onipresença da Igreja Católica. Símbolo da opulência do ouro e da grandiloquência do barroco, é hoje uma cidadezinha aprazível, uma boa e agradável síntese da mineiridade.
Mergulho na     Ouro Preto de hoje e logo sinto os odores do passado. Vejo as “Marílias” ricamente adornadas, os jovens e apaixonados poetas da Arcádia, os distintos e vistosos homens da guarda, mercadores, artesãos, engenheiros, padres...Ouço os cânticos alegres das procissões e os típicos sons de uma vigorosa cidade que se ergue sobre o áureo brilho.  Enfim, uma atmosfera vivaz e resplandecente como o ouro das minas turva meus sentidos.
Mergulho um pouco mais e conforme o faço, essa exuberante Ouro Preto vai se desvanecendo, dando lugar a um outro mundo, um mundo lúgubre, onde os anjos, arcanjos, querubins e toda hierarquia celestial cede espaço a Mefistófeles. Onde Ariel sucumbe a Caliban. O que toca meus ouvidos agora são os gemidos dos escravos e o tilintar das correntes; os odores que impregnam meu Ser são os da senzala e o do sangue vertido pelo açoite. Sinto o fedor da carne lacerada e vejo o espectro da morte obumbrando por sobre as montanhas. Acabaram-se as ternuras, os amores e a bucólica poesia se transforma em cântico de horrores. Nas vielas escuras os sussurros da conspiração é o prólogo de mais sangue e os santos homens de negro aguardam sedentos por mais e mais...
Os portugueses se foram. Os escravos permanecem sepultados, os poetas calados e os mártires enforcados. Ouro Preto permanece e não permanece. Agora as “mãos de aço” da Vale rasgam as montanhas ávidas pelo “novo ouro” e os herdeiros dos escravos empunham novas armas, erguendo-se contra a nova e velha opressão.

Saimov